Temperaturas do Atlântico explicam estiagem no Sul e umidade no NE. Os impactos da estiagem no Sul no Setor Elétrico

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Em 2020, a região Sul do Brasil está enfrentando uma das mais graves estiagens de sua história. A criticidade é tanta que mais de 200 municípios do Rio Grande do Sul decretaram situação de emergência, pois está faltando água para os agricultores e para o consumo da população de algumas cidades. No setor elétrico, consequentemente, as usinas hidrelétricas também têm sido afetas diretamente.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o mês de janeiro de 2020 teve a nona pior condição hidrológica da sua série histórica, com fechamento de 45% das chuvas previstas para o mês. Em fevereiro, o índice fechou com 33%, sendo o quarto pior da série. Posteriormente, março e abril foram os piores do histórico, com 26% e 16%, respectivamente. Já maio encerrou com 18%, sendo o sexto pior. Com isso, a média dos cinco primeiros meses do ano ficou em 28% – a pior do histórico.

A situação atípica na região está associada à interação entre o oceano e a atmosfera. Na costa oceânica próxima a região Sul e parte da região Sudeste do Brasil, as águas estão com temperaturas baixas, enquanto no Nordeste do país estão com temperaturas mais altas que o normal. Os sistemas meteorológicos, como as frentes frias e os cavados atmosféricos, são atraídos para áreas de águas mais quentes, causando chuva nelas.

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Gráficos mostram mapas de anomalia de temperaturas oceânicas de janeiro a abril de 2020. 

Pelas imagens acima, é possível notar essa condição de águas quentes no Oceano Atlântico que envolve as regiões Norte e Nordeste, enquanto a região Sul e parte da região Sudeste apresentam águas mais frias. Com isso, as frentes frias passaram muito rapidamente pelo Sul e se alojaram no SE, NE e NO. Como consequência, as usinas do NE estão alcançando níveis excepcionais. A usina de Sobradinho, por exemplo, alcançou em maio o melhor nível em 11 anos de operação.

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Gráfico mostra índice pluviométrico de janeiro a abril de 2020.

Ao longo dos primeiros quatro meses deste ano, é possível notar que as chuvas foram diminuindo na região Sul. Os gráficos acima representam os períodos com chuvas acima da média na cor azul e os que ficaram abaixo da média estão na cor laranja. Com exceção ao mês de janeiro, a região apresentou índices abaixo da média em todos os outros períodos.

Historicamente, a Região Sul costuma ter chuvas bem distribuídas ao longo do ano, com picos no inverno e no verão, sem períodos extensos de estiagem. Um fator agravante para a situação atual é o fato de que a região Sul possui um solo duro, rochoso e com pouca água armazenada. Com a falta de chuvas rapidamente as afluências diminuem e o solo resseca ainda mais.

Para o mercado de energia, a seca na região Sul tem um impacto negativo no preço. Algumas hidrelétricas da região já tiveram a geração suspensa, como em Machadinho. A maior usina do país, a binacional Itaipu, está inserida neste contexto de estiagem, o que aumenta a preocupação do setor. Com isso, apesar do acionamento das termoelétricas na região, os demais subsistemas têm tido que gerar uma quantidade suficiente de energia para suprir a região Sul.

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Ponto turístico, as Cataratas do Iguaçu têm um visual muito diferente daquele que estamos acostumados, devido à estiagem prolongada.

No entanto, devido à baixa demanda da economia ocasionada pelo Covid-19, o sistema elétrico nacional não está operando com 100% de sua capacidade. Na prática, a baixa demanda cria restrições na importação de energia entre as regiões. Em condições normais de consumo, seria possível transferir energia da região Norte, que é superavitária em geração nesta época do ano, para o Sudeste e depois para o Sul. Porém, como o as linhas de transmissão não estão operando em suas condições ideais, não é possível importar energia suficiente do Norte para o Sul. Este cenário coloca mais pressão na região SE, que está sendo obrigada a gerar excedente de energia para a região Sul.

Obviamente, a solução para a questão do Sul seria um aumento exponencial das chuvas na região. Sob o ponto de vista de modelagem matemática, a perspectiva é que choverá entre a média ou talvez um pouco acima da média nos meses de inverno. Isso deve aliviar a situação, mas não será suficiente para recuperar de forma rápida o déficit gerado pela longa estiagem. Alguns meteorologistas preveem a formação de uma La Niña para o segundo semestre, o que poderia até agravar a situação. Essa visão ainda não é compartilhada pela Stima Energia.

Continuaremos monitorando a situação para entender de forma mais clara como o cenário meteorológico continuará afetando o setor elétrico. As condições climáticas e o mercado livre de energia estão diretamente ligados, por isso, contamos com uma equipe de meteorologistas que nos fornecem dados importantes para um planejamento estratégico. Se você se interessa por esse e outros assuntos, acesse nosso site e confira nossos artigos.