Preço baixo, mas consumo estagnado

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Os preços competitivos não têm provocado maior utilização de energia

Por Jansen Meira, sócio e trader da Stima.

Em 2022, vivemos um período de preços baixos para a energia no ambiente de contratação livre. A Stima Energia registrou através do seu indicador IStima que os valores começaram o ano em queda constante e, a partir de agosto, mantiveram-se no patamar mínimo regulatório. Em paralelo, o consumo de energia segue estagnado, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Se os preços estão tão atrativos, por que o consumo não aumenta? Os motivos são múltiplos.

Em primeiro lugar, temos um momento econômico de cautela e instabilidade. Existem muitas incertezas sobre esse cenário nos próximos meses. O País está se recuperando da sobreposição de duas crises, a sanitária e a econômica, e os efeitos ainda são sentidos pela população. Além disso, é um ano de troca de Governo Executivo – momentos de mudança de equipe sempre geram no mercado uma postura mais conservadora na hora de realizar investimentos. Aliado a isso, indústrias de diversos setores enfrentam preços altos de matérias-primas, fretes elevados e equipamentos por conta do dólar elevado.

Todos esses fatores influenciam do cenário econômico, mas ele não é a única causa do consumo estagnado. Os números de migração para o mercado livre não serão altos até que o limite para se tornar consumidor livre caia por completo e atinja mais consumidores. E quem está no mercado regulado enfrenta altas tarifas para utilizar energia.

Também devemos levar em consideração o crescimento expressivo da geração distribuída que praticamente dobrou a potência instalada em 2022, atingindo 16 GW, segundo dados da ANEEL. A energia usada por esses consumidores que optaram por gerar o próprio insumo não entra nesse cálculo da CCEE para o mercado livre e o mercado regulado.

Por último e mais importante, o clima também é responsável, já que em 2022 o calor foi bem menos presente do que nos anos anteriores. As altas temperaturas costumam influenciar bastante no consumo de energia por conta de aparelhos de ar condicionado e refrigeração que demandam muita eletricidade. Atrelado a isso tivemos um regime de chuva dentro da normalidade para melhor durante o ano de 2022.

Por esse conjunto de razões a curva do consumo segue estagnada e a expectativa é que no início de 2023, com a continuidade do período úmido, os preços de energia sigam em patamares mínimos. Resta saber como será o cenário econômico e o andamento da abertura do mercado e demais fatores que impactam a demanda.