Balanço da chuva e da ENA nos últimos meses

Mercado livre de energia comenta questões de mercado que não deveriam atrasar a tramitação do novo marco elétrico no Brasil
27 de março de 2020

O atual período úmido, compreendido entre os meses de novembro de 2019 a março de 2020, começou de forma tímida, colocando os agentes do setor elétrico em estado de atenção e os meteorologistas em “xeque”. No entanto, depois de uma primavera seca tivemos, tanto o janeiro quanto o fevereiro, com chuvas bem significativas em todo país, com exceção da região Sul. O período úmido desse ano surpreendeu tanto que pôs fim a uma das recentes discussões do setor: a de que a MLT de ENA do subsistema Nordeste tinha que ser revista, pois a ENA nunca mais chegaria nem perto de 100% da média histórica.

Mapa 1 – Chuva e anomalia de chuva observada no mês de janeiro e de fevereiro de 2020.
Fonte: CPC – NOAA

A chuva em fevereiro foi bem acima da média nas bacias dos rios Tietê, Grande e Paranaíba, na região do alto e médio São Francisco e no alto Tocantins. O reflexo desta chuva, após um janeiro também chuvoso, foi extremamente positivo para as vazões dos subsistemas Sudeste-C, Oeste, Nordeste e Norte. No entanto, choveu muito pouco nas bacias da região Sul, prejudicando as vazões deste subsistema.

Tabela 1 – Energia Natural Afluente observada em março no dia 04/03/2020 e a previsão do fechamento do mês de março. Fonte: ONS
*Dado divulgado em 05/03/2020 pelo ONS para o fechamento de março

A discussão agora é se a chuva se prolonga por muito mais tempo como no ano passado. Devemos lembrar que em 2019 tivemos um verão ruim (com dezembro de 2018 e janeiro de 2019 bem mais secos que o normal) e, em seguida, um outono mais molhado do que a média. Contudo, a chuva do outono não foi capaz de compensar a falta de chuva daquele verão para o sistema elétrico ao longo do ano. Isto porque o volume e a frequência das chuvas no verão são muito mais significativos para as vazões e os reservatórios do que os das chuvas de outono. Neste ano, a expectativa é que o outono não seja tão molhado quanto o do ano passado, mas isso não quer dizer que será completamente seco.

Sob o ponto de vista meteorológico, espera-se que o volume de chuva e a frequência diminuam de forma gradativa nos próximos meses pela climatologia. Podemos ver nos mapas abaixo que, à medida que vamos nos afastando do verão e nos aproximando do inverno, a chuva vai diminuindo e ficando restrita aos extremos norte e sul do país. A MLT de ENA diminui gradativamente também no Sudeste, no Nordeste e no Norte, mas aumenta no Sul. O fato é que a vazão produzida pela chuva do verão foi muito boa e mesmo que chova na média ou, um pouco abaixo, de agora em diante, os efeitos positivo das chuvas de verão para o sistema deverão ser sentidos ao longo de todo ano.

Mapa 2 – Normais climatológicas de chuva e MLT no primeiro semestre do ano.
Fonte: CPC – NOAA e ONS

Autor:
Alexandre Nascimento
Middle Office Analyst – Stima Energia